8/14/10

Eu, o crônico...

Escrevi uma crônica a pedido de uma amiga para a revista que ela escreve. A versão original, para os fins da revista, ficou meio pesada e a editora mudou um bocado. Aqui, publico a versão MACHO!

A ideia era escrever sobre as armadilhas da comunicação. Imitei o estilo do Arnaldo Branco para a Zé Pereira sem dó alguma, ainda que com resultados mais limitados:

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Os 40% que sobram

Alguém, a essa altura, já deve ter definido a comunicação como uma guerra. Se for o caso, imagino que deve ser parecido com o War, o jogo de tabuleiro: quem defende tem a vantagem do empate. Explico.

Se (e digo apenas para fins de discussão, já que não pretendo resolver a comunicação do ponto de vista acadêmico) a comunicação acontece no embate entre o que um pensou ter dito e o outro entendeu, este último tem toda a liberdade de entender o que quiser. E aí, amigo, danou-se.

Claro que nem sempre isso é uma coisa ruim. Lembro do caso de uma música do Chico (o Buarque), que o Tom (o Jobim) gostava e queria muito tocar. O Chico não sabia qual e Tom piorava a situação dizendo algo como: é aquela, da mulher despeitada, que quer o ex-marido de volta. Bem, a música era “Olhos nos olhos”, e Chico escreveu pensando na superação da mulher. O despeito foi criado na cabeça do Tom, e eu achei que a música ficou melhor assim. (Quando você me quiser rever / Já vai me encontrar refeita, pode crer / Olhos nos olhos / Quero ver o que você faz / Ao sentir que sem você eu passo bem demais)

Uma vez, uma namoradinha dos tempos de adolescência, sabendo que eu iria descambar para os lados do jornalismo, disse, empolgada, que havia lido numa revista que apenas 40% do que é dito é apreendido pelo interlocutor. O problema foi que, ao final, ela disse ‘entendeu?’, de forma retórica. O fato de eu ter respondido ‘só uns 40%’ não contribuiu para a manutenção do relacionamento. Ela não entendia piadas. Pelo menos não 100%.

As pessoas entendem o que bem querem, não importa o que você tenha dito. A única coisa a fazer é rezar para que o pouco que foi entendido, tenha sido interpretado de forma minimamente próxima às suas intenções originais.

Caso não seja, não se preocupe. Culpe a burrice ou falta de boa vontade alheia e durma feliz e em paz com a sua consciência. Você fez o seu melhor.

Aliás, convenhamos que boa vontade costuma ser o principal problema na compreensão de uma mensagem. Já vi funcionários de uma empresa que oferecia café da manhã de graça para todos reclamarem da forma diabólica como os diretores faziam para obrigá-los a chegar na hora.

E nem preciso ir tão longe. Qualquer um que tenha discutido o relacionamento (a famigerada DR) sabe do que eu estou falando. Todo e qualquer argumento será usado contra você. Naquela hora. E depois. E até uns 20 anos depois da relação ter acabado, caso você, por acaso, encontre a outra pessoa na rua. Não importa a boa intenção por trás. Não importa nada, na verdade.

A minha estratégia é pedir desculpas e culpar minha criação. O que, claro, também dá errado.

Entendeu?

2 comments:

Unknown said...

Concordo que as pessoas entendem o que bem querem, às vezes penso se não tem a ver com o já trazem em si, com o que acreditam e pensam em não mudar. Mas me diga, o texto da revista que foi cortado(e/ ou censurado?) será apreendido em quanto %?

Unknown said...

Vixi, então você precisa ler este post aqui:
http://nandaricardocampos.blogspot.com/2010/08/e-pra-onde-uma-cancao-pode-nos-levar.html

Estsou adorando seus textos, mas eles demoram muito a aparecer, espero que atualize sempre o blog...

Beijos grandes!