11/27/09

Outro de cinema...

Outro texto que escrevi para o Segunda tem Cinema (link para o projeto ao lado). Desta vez o filme é o ligações perigosas. Usei uma estrutura mais formal, mas resolvi abordar de frente a adaptação. O resultado:

As Ligações Perigosas

Ao longo deste ano, por conta desse projeto, tivemos que ler (ou reler) os livros referentes aos filmes apresentados. Já que trabalharíamos a questão da adaptação, era inevitável que, durante a leitura, pensássemos como seria a nossa versão desta história em filme.

Com o romance epistolar de Chorderlos de Laclos não foi diferente. E a primeira coisa que me veio a mente, já nas primeiras cartas, por conta dos prefácios, foi o formato de documentário falso. O mockumentary. O que tem haver? Já me explico.

No prefácio nos deparamos com uma primeira ressalva. O editor do livro avisa que todas aquelas cartas são ficção, fruto da mente do autor, nada além disso, e que a sociedade da época não permitiria a produção de sujeitos capazes de atos tão vilanescos. O segundo texto, de autoria assumida por Laclos, traz a afirmação oposta. Que ele simplesmente organizou e catalogou as cartas, se restringindo a um ou outro rodapé. No posfácio da edição da LP&M encontramos, ainda, a ressalva de a primeira nota do editor ter sido escrita também pelo próprio Laclos, mostrando que essa desconfiança em relação a procedência do texto pode ter sido intencional.

E enquanto minha idéia de adaptação foi o documentário falso, já que o romance de Laclos brinca com a relação entre real e ficcional, Stephen Freas, o diretor, decidiu por um filme de época. Mas por que, afinal, a escolha desse formato?

A resposta é simples: cada um usa a mesma estória para atingir objetivos distintos. O que fica claro quando se pensa o contexto de produção da época.

Laclos pretendia chocar o povo e desnudar a nobreza, classe que vivia de renda, sem outro fim que não suas vontades. Viviam como crianças grandes e mimadas, buscando, ao mesmo tempo, pecado e redenção. Aquele condenado e este vendido pela igreja católica.

Hoje (e mesmo nos anos 80, quando o filme foi produzido) não há nobreza. Mas ainda existem pessoas que não compreendem como cada ato seu afeta o mundo. Por isso o filme ganha força ao abandonar a proximidade com o real, mantendo as características de filme de época, para se tornar, então, uma alegoria do homem moderno, tão individualista que se interessa mais por si que pelo mundo que o cerca. Alegoria moralista, é importante que se saiba, já que apenas os desviantes confessos são punidos (mais duramente no livro).

E se não é possível ter acesso às mentes dos tentadores e dos tentados, como nas cartas do livro, é delicioso ver como o filme de Frears transforma, por vezes, várias páginas dessas cartas em uma única frase.

Mas não pense que algo se perde. Nos olhares de John Malkovitch e Glenn Close estão todo o veneno dissimulado do Visconde de Valmont e da Marquesa de Merteuil, ao mesmo tempo em que existe inocência na Senhorita de Volanges da pós-adolescente Uma Thurman e devoção na Presidenta de Tourvel de Michelle Pfeiffer. E se há um porém, como sempre há, ele se chama Keanu Reeves.

11/17/09

outro de bancários...

outro texto para o site dos bancários... ele tem uma versão melhorzinha, mas não acho que vou conseguir recuperar:

Os jornalões podem até não gostar de falar sobre o Estado das Araucárias, se limitando a Rio, São Paulo e, quando muito, Minas, em suas notícias. Caso pior é o do Nordeste, que costuma ser tratado como um único estado, mais distante da realidade, impossível. Por outro lado, um leitor mais atento pode verificar como o Paraná é muito importante para todo o Brasil. Exemplo claro foi, justamente, a 11ª Conferencia Nacional. E era gente de tudo o que é jeito e lugar do estado. Por exemplo, tem o Ademir Vidolin, da secretaria jurídica do Sindicato de Curitiba e Região, que já está em sua terceira conferência nacional. Para ele, uma das coisas mais importantes é poder atualizar o que vem sendo reivindicado. Afinal, os tempos mudam e o banco de hoje, não é como o de bem pouco tempo atrás. Alguns percebem a mudança do tempo na própria conferência. Luiz Carlos Liss, diretor de esportes do Sindicato de Guarapuava e Região, é um desses. Antes, o encontro era separado por bancos. Muito mais complicado de reunir as opiniões. Agora, havendo a separação por tema, ele, que participou da mesa de saúde, se sente com muito mais informações para trabalhar em sua base. Nas palavras dele: “muito melhor”. Outros, não viram nisso tanta mudança assim. O presidente do Sindicato de Londrina e Região, Vanderley Crivellari, pensa que não houve uma mudança tão grande em ser por tema. Ele, que participa pela sexta vez, acredita que está, justamente, na hora de mudar algumas coisas. Mas que o mais importante é que a conferência é um lugar onde todo o Brasil acorda uma meta única a ser perseguida. Que é desse esforço de união que a campanha ganha força. Envolvimento Se fosse apenas presença e voto, a participação dos ilustres paranaenses já estaria de bom tamanho. Estavam, eles, ali para representar o que os trabalhadores bancários de sua região queriam e pronto. Mas isso tudo é muito pouco para eles. O secretário de imprensa e comunicação da FETEC-CUT-PR, José Altair Monteiro Sampaio, por exemplo. Coordenou a mesa de previdência e, ainda, deu suas palhinhas para melhorar a minuta. Foram, no caso dele, duas sugestões apresentadas e aprovadas na Conferência Estadual, e respaldadas na Conferência Nacional. O presidente do Sindicato de Curitiba e Região, Otávio Dias, também ajudou em uma mesa. Estava lá, firme e forte para colocar ordem durante a apresentação da pesquisa nacional. Esforço homérico, diga-se de passagem. É que sindicalista gosta de dar uma opinião sobre qualquer assunto. E haja controle de tempo para repetir, para praticamente todas as falas: “resta um minuto”. O velho conhecido do movimento sindical, Roberto Von der Osten, que está agora na CONTRAF-CUT, encarou duas mesas. Uma, bem complicada, Emprego e Remuneração. Quanta coisa teve que ser votada na plenária por falta de acordo. Depois, como que para descansar um pouco, ajudou na votação geral sobre Segurança Bancária. Só uns três ou quatro probleminhas. Nada de mais. Não liberados O pessoal do Paraná se preocupou ainda com outra questão. Preparar mais gente para dar prosseguimento nas discussões e, logicamente, na luta. José Carlos Vieira de Jesus e Thaisa Botogoski. Ambos não liberados pelo banco HSBC, dirigentes de base em Curitiba e Região. Para o movimento sindical, foi muito importante a participação dos dois, porque é uma forma de fazer com que as informações e decisões fossem levadas diretamente para os trabalhadores bancários. Ele veio para a sua segunda conferência quase por acaso. Era suplente e surgiu uma vaga. Ela estava mesmo na sua primeira conferência. Sentados sempre nas primeiras fileiras, os dois não desgrudavam o olho do que era apresentado. Exceto por um eventual cafezinho, ida ao banheiro ou um raro cigarro. Mas isso não é por serem novos no movimento. É porque ninguém é de ferro mesmo. Thaisa era uma felicidade só. Ela fala que é porque se identifica muito com o movimento. O mais importante para ela foi apreender como as reivindicações são construídas. De como acontece a transformação da elucubração teórica em um artigo novo na minuta. De como as diferenças são resolvidas da forma mais democrática possível. “Se gostei? Não vejo o a hora de voltar!”. José Carlos é um dos que vê mudanças positivas na Conferência. Pelo menos do último ano para este. Sentiu que o debate por eixos tornou a discussão muito mais produtiva. Ele, que participou da mesa de Previdência Complementar, achou extremamente importante para poder levar suas reivindicações para o HSBC que, em sua opinião, não possui um programa eficiente. Esses dois enfrentam um grande desafio todos os dias. Conciliar o trabalho no dia a dia do banco com a vocação sindical. Curiosamente, os dois definiram como: “correria”. E é na hora do almoço, fim do expediente, entre um cafezinho e outro, no papo de corredor que fazem o trabalho sindical. Qualquer um pode pensar que é loucura. Afinal, não se ganha nada a mais para isso. Mas o sorriso no rosto dos dois não mente: lutar pelo trabalhador é, sim, uma grande recompensa. Luiz Gustavo Vilela – Jornalista FETEC-CUT-PR

10/19/09

memórias da luta

texto que fiz para a revista dos bancários. até que achei bacaninha, mesmo com um tema tão árido...

Bancário que conhece seu passado é bancário forte!

Em 1933 o Paraná comemorava 80 anos de sua emancipação de São Paulo. O mundo estava perto de conhecer o horror nazista e Karl Marx publicava postumamente seu “A Ideologia Alemã”. 1933 também foi o ano em que os trabalhadores bancários saíram às ruas para validar sua primeira grande conquista: a jornada de trabalho de seis horas.

Até esse momento, os bancários das zonas urbanas eram obrigados a trabalhar de 7 e 30 até 18 e 30. Na zona rural era pior ainda: de 7 até 19. Os trabalhadores ficavam dentro de cofres esse tempo todo e lidavam com um dos objetos mais sujos da modernidade. O dinheiro. Esses dois fatores tornaram a categoria vítima fácil para a tuberculose e para a neurose. A primeira conquista dos trabalhadores bancários foi uma medida necessária para preservar a sua saúde.

Mas muito foi trabalhado até que esse longínquo 1933 chegasse. Mais ainda se trabalhou depois. Ao longo dos anos, através de duras lutas, a categoria bancária conquistou sua Convenção Coletiva, considerada por muitos como uma das mais avançadas do país, contando com mais de 50 cláusulas. “Os trabalhadores bancários têm uma trajetória de luta muito interessante e, não é por acaso, que foi conquistada a Convenção Coletiva de Trabalho Nacional, ou seja, o piso do bancário é o mesmo de Norte a Sul do país”, diz Elias Hennemann Jordão, Presidente da FETEC-CUT-PR e trabalhador no Bradesco, ressaltando uma das tantas qualidades do documento trabalhista.

História de conquistas

O que é alardeado pelos bancos como benefício dado ao trabalhador é fruto de anos de luta sindical. O auxílio-creche, por exemplo, só foi conquistado com uma greve em 1981. Mas, ainda assim, apenas para crianças de até 70 meses de idade. Em 1992, com outra greve, foi ampliado para 83 meses. Auxílio-refeição e vale-alimentação são conquistas das campanhas de 1990 e 1994, respectivamente.

13ª cesta-alimentação é uma conquista da luta de 2007. Nesse mesmo ano os sindicatos negociaram o pagamento de auxílio-educação, pelo menos para os maiores bancos (exceto Bradesco). Isso acontece porque, infelizmente, “quando se trata de negociar com banqueiros a luta precisa ser redobrada, o que é uma incoerência, pois se trata do setor que sempre obtém altos lucros, independente da situação financeira do país ou do mundo”, diz Elias Jordão. “Mais com especulação do que com produção”, completa.

Poder aquisitivo

Durante todos esses anos, o principal foco da luta foi o poder aquisitivo do bancário. De forma direta, com aumentos reais e garantia na participação dos lucros e resultados, ou de forma indireta, com a conquista dos auxílios já citados. Desde 2004, por exemplo, os bancários, graças a mobilização da categoria, vêm recebendo aumento real, ou seja, maior que a inflação.

A Convenção Coletiva da Categoria Bancária pode até ter mais de 50 cláusulas, mas a minuta de reivindicações possui mais de 100. Muito já se caminhou durante todos esses anos, mas muito ainda é preciso caminhar. “É bom lembrar aos bancários mais novos que tudo aquilo que foi conquistado com muita luta e com muita mobilização, somente se manterá também com muita luta e muita mobilização”, diz Elias Jordão.

6/29/09

De engrenagens e bobinas...

Este foi um texto que escrevi para ser encartado no folder para uma exibição do filme "A Máquina", que gosto muito, diga-se de passagem.

O problema de quando se gosta muito de uma coisa é que não rola distanciamento. ah! nunca quis ser jornalista mesmo...


A Máquina, o livro, filme, peça, não trata de engrenagens, fios, placas de metal, circuitos ou bobinas. Não é desse tipo de máquina.

A Máquina, livro, filme, peça, é de máquina-homem e máquina-mulher. Máquina-corpo. Máquina-coração, que bate mais rápido. Máquina-pulmão, que ofega. Máquina-tempo-que-não-é-do-tempo. Máquina-mundo. Máquina-eu. Máquina-você. Máquina-antônio-e-karina. Máquina-amor.

A Máquina, livro, filme, peça, tem haver com tempo. Tem haver com confundir tempo de horas com tempo de chuva. Porque A Máquina, livro, filme, peça, é sobre palavras. E olhe que nem entra nessa bagunça de dizer que ‘no princípio havia o Verbo’.

A Máquina, livro, filme, peça, é sobre torcer o mundo. A Máquina-mundo. Para funcionar de um jeito bonito de se ver, fazendo o povo todo rir que só vendo com todas essas coisas bobas de amor que a gente morre de vergonha de dizer que sente.

A Máquina, livro, filme, peça, é sobre um menino e uma menina. O menino quer a menina e a menina nem sabe que quer o menino. Mas a menina quer o mundo e o menino, que não é besta nem nada, vai lá buscar o mundo para a menina que isso não é serviço pra moça daquela idade.

A Máquina é livro porque é palavra. A Máquina é peça porque é emoção de verdade. A Máquina é filme porque é imagem.

A Máquina, o livro, o filme e a peça, é tudo isso e se você quiser, pode ser ainda mais.

6/23/09

coerência...

hoje, fazendo a ronda matinal e diária pelos jornais, me deparei com isto.

poxa, fico bem feliz de ver que os caras que fizeram aquela lambança na regulação da minha atividade profissional, conseguem ser igualmente imbecis em relação a outros temas, até mesmo menos complicados.

[tá, eu sei que STJ é uma coisa e STF é outra. mas usou toga e fodeu a vida da moçada... coloco no mesmo balaio...]

6/18/09

top 5...

Ao longo do livro "Alta Fidelidade", do Nick Hornby, ele faz dezenas (sério, dezenas) de top 5 lists. Uma delas é genial:

Cinco primeiros grupos ou músicos que terão que ser fuzilados quando a revolução musical chegar:

1) Simple Minds
2) Michael Bolton
3) U2
4) Bryan Adams
5) Genesis

Resolvi montar a versão brazuca:

Lista dos cinco primeiros grupos que deverão ser esquartejados e seus corpos exibidos em praça pública quando a revolução musical chegar, no Brasil:

- Lulu Santos
- Djavan
- Carlinhos Brown
- Gilberto Gil
- Marcelo D2

6/14/09

virtualidade...

mudar o seu perfil no orkut não muda quem você é...

5/22/09

Ressaca...

Esse texto é para o folder do projeto "Segunda tem Cinema". Mais detalhes aqui: http://hojetemcinema.wordpress.com/

[o texto abaixo está no folder distribuído durante a apresentação]

Estar de ressaca, em muitos sentidos, quer dizer que aproveitamos uma grande euforia por alguns instantes e, depois, temos que lidar com as consequências desses atos. Significa ter planos e adiá-los até o ponto em que sua não realização nos atinge como uma bala de canhão. Significa acreditar em seu próprio potencial, mas não realizar nada de verdade por medo de que a única coisa real seja sua própria fé nesse potencial.

Tanto o filme quanto o livro Alta Fidelidade (High Fidelity, de 2000, o filme, dirigido por Stephen Frears, o livro escrito por Nick Hornby) falam de chegar a um ponto da sua vida e não ter realizado nada de concreto. E isso gera uma imensa ressaca. Não por acaso o herói da história está, em geral, em casa reorganizando seus discos, na loja em que possui e passa o dia afugentando clientes com gosto musical ruim ou em um típico pub inglês.

Mas, afinal, acabar com a ressaca significa, necessariamente, amadurecer?

Muito da força da história está em não querer responder essa pergunta. Mesmo com algumas pequenas mudanças estruturais do livro para o filme, Rob (Gordon ou Fleming, a gosto do freguês) dá alguns passos tímidos em relação a assumir seu relacionamento, a expandir os negócios, mas, felizmente, não temos aqui aquele momento catártico típico das produções que vão direto para a Sessão da Tarde. Rob, pelo menos no que concerne a esse humilde jornalista, toma uma atitude em relação a sua vida não por ter colocado tudo em perspectiva e descoberto o quanto ele foi mal com as outras pessoas.

Ele dá tímidos passos a frente simplesmente porque está cansado de ouvir de seus pais, de sua [ex-] namorada e de seus amigos o quanto ele poderia ser e não é. Não existe iluminação nem nada do gênero. Só um homem que não entende muito bem em que errou no passado, se é que errou.

Alta Fidelidade (nome que funciona muito bem nas duas línguas) diz respeito tanto à loja e a coleção de discos (além, claro, da obsessão com música, que acaba permeando todo o filme), quanto de se manter fiel a si e a seus próprios sonhos. E isso, meus amigos, é muito mais real do que a maior parte das histórias que estamos acostumados a ouvir e ver.

[Texto escrito ao som do último ábum da banda Móveis Coloniais de Acaju, C_mpl_te, baixado legalmente no site da Trama Virtual]

5/2/09

O inferno...

...é uma festa de brancos de classe média ao som de hip hop feito por brancos de classe alta...

4/17/09

idéia para curta... (2)

na frente de um elevador no térreo de um prédio.

chega um homem. ele quer subir e, por isso, aperta o botão que solicita ao elevador para que pare quando estiver subindo.

chega um outro homem. conhecido do primeiro. eles se cumprimentam. o segundo aperta o botão de baixo. o que sinaliza que o elevador deve parar quando estiver descendo.

o primeiro estranha:

-reunião fora? vai para a garagem?

-não... só para o elevador chegar mais rápido!

nesse momento a câmera enquadra o primeiro homem. o ódio é visível em seu rosto. a câmera se desloca enquadrando o primeiro de baixo para cima. uma luz surge sobre a cabeça dele.

ele, então, percebe que sua mão direita está segurando, ao invés de uma pasta, uma espada samurai.

com um grito ele decepa a cabeça do segundo homem e sorri, feliz com seu feito.

corta para o rosto atônito do primeiro homem se dando conta que tudo não passou de um sonho. o elevador chega. o segundo homem entra. o primeiro não. o elevador se fecha e desce....

-- fim --

idéia para curta...

cenário: beco escuro
luz em penumbra e a câmera só deve enquadrar os atores de soslaio...

- cara, eu preciso de mais daquela parada da colômbia...
- só tenho para consumo próprio meu velho. vou ficar te devendo.
-mas eu preciso!!!
-se fudeu!
-puta que pariu! você me viciou e agora vai ficar nessa de amarrar mixaria?!!?
-calma criança. colombiana tá em falta. muita gente querendo. tá na moda. até os outros do chile e da bolívia tão em falta, e olha que nem é tão da boa assim... tem uma parada da argentina, mas de outro tipo. não sei se tu ia curti...
-cara... na fissura que eu to, to topando qualquer coisa...
- quanto tu tem aí?

[o comprador mostra uma nota de cem e mais duas de vinte]

-tamo rico ein doido!?!?! seguinte criança... vou te arrumar um desse argentino e uma parada russa...
-russa?
-é animal! deixa eu termina de fala e depois tu abre o bico!
-foi mal...
-favor de amigo, ein? tu é meu chegado... me arruma esses 40 conto que tu tem aí. pega essas paradas aqui. acho que tu vai curtir. se não quiser mais eu devolvo sua grana e ainda arrumo mais da colombiana. tranquilo?

[câmera enquadra a transação. a grana sendo trocada por dois pacotes diferentes. a câmera segue o comprador caminhando para fora do beco, com cuidado para não deixar cair os pacotes. ele chega em casa. abre e lá estão Lolita, do nabokov, em pocket book, e uma coletânea surrada de contos do Borges]

--- fim---

4/14/09

efeméride torta...

criei esse blog a exatos 3 anos, uma semana e dois dias. se eu tivesse vergonha na cara este post estaria no ar no dia do meu aniversário. mas isso implicaria em me manter sóbrio, ou na frente do computador por mais tempo do que é saudável no dia do seu aniversário.

eu amo escrever. gosto mais do que jamais achei que pudesse um dia gostar, apesar de que ler ainda seja um ato mais prazeroso. mas entre escrever e, efetivamente, viver uma experiência, vou na segunda alternativa sem piscar.

e talvez essa seja a real lição trazida pelos meus 1/4 de século perambulando pelo mundo. eu realmente aprendi que mais vale estar na rua bêbado com seus amigos e sua (eu) namorada (o) que qualquer outra coisa.

e porque não?

se o embate do Arturo Bandini (que já falei em alguns posts abaixo) era o de não ter certeza da força de sua escrita sem experiências para sustentá-la, nada mais natural que ficar na rua.

mas acho que tergiversei.

o fato é que mesmo em um blog sustentado por um marco fixo de tempo e cuja 'proposta' seja o de acompanhar as transformações do meu pensamento, não pode e não deve estar firmemente atrelado à sua proposta original de forma a engessar a minha produção. o que aconteceria, nesse caso, é que que seria dada uma prova inequívoca de que eu não mudei em nada nos últimos três anos. but, boy... you would never guess...

minha produção em prosa e poesia andam meio fracas, por isso a falta de atualizações. existem uma série de contos na minha cabeça. mas eu acho que o exercício é o de fazer eles cada vez mais curtos para que as pessoas tenham saco de ler na internet. ainda não sei como fazer isso. assim que eu descobrir eu posto aqui.

de resto, é isso...

3/5/09

da juventude...

[ou, de como me tornei ranzinza]

cheguei à conclusão, não tão complexa assim, aliás, de que não é possível crer em uma geração que para para conversar na frente de uma porta onde uma multidão de outros parvos, como eles próprios, estão esperando a sua vez de parar para conversar na frente da porta...

3/4/09

Explicações...

Quando Deus criou o mundo Ele só estava interessado em poesia. Mas os homens... ah! os homens... só querem saber de matemática...

deu no que deu...

2/28/09

Quando o trabalho é diversão...

Texto que escrevi sobre o livro/DVD. A minha tentativa é de articular momentos mais poéticos com informação, ao mesmo tempo em que busquei desdobrar o meu texto do próprio livro.

Mas, como disse, é uma tentativa...

Adeus à solidão

“Quem disse que o processo do livro acaba quando o escritor terminar de escrevê-lo?”. A indagação do escritor e diretor curitibano Adriano Esturilho parece quebrar com o óbvio. Tirando as preocupações com design, impressão, lançamento e vendas, que não têm relação direta com o ato da escrita, o trabalho do escritor termina no último ponto final. Certo? Errado! E é isso que ele prova com seu [cancha 2] – cantigas para perverter juvenis, que está sendo relançado no dia 18 de fevereiro no teatro da Caixa, em Curitiba. O evento, além das exibições dos curtas, contará com um bate-papo com os convidados Luiz Felipe Leprevost, Paulo Biscaia Filho e Ricardo Corona. A equipe de peso deve comentar a pesquisa e processos de transposição de linguagens a partir da experiência do [cancha 2].

[cancha 2] é o segundo livro de uma trilogia que já nasceu intermidiática. “No Poesinhas - cantigas para perverter guris, tentei criar poemas curtos a partir de uma voz narrativa com a interferência de um olhar da criança. Agora, no [cancha 2] - cantigas para perverter juvenis, optei por contos curtos, e a voz narrativa é juvenil”, conta Esturilho. O primeiro livro foi transposto para pequenas intervenções teatrais. Este agora busca em curtas-metragem a possibilidade de ampliação ou transformação de significados. Esse trânsito entre linguagens sempre foi uma característica da Processo MultiArtes, coletivo que Adriano integra e que se envolve, justamente, nessa parte de deixar o trabalho literário menos solitário. O lançamento desse livro-DVD é ainda uma forma de veiculação de curtas, mídia que costuma ter muitos problemas para ser exibida em circuito comercial, o que acaba se transformando em uma vitrine para esses realizadores.

Os contos, todos bem curtos, são marcados pelas ‘locações’ curitibanas, pela tensão juvenil e pelo forte exercício estilístico impregnado em cada frase. As referências se cruzam indo de Tim Maia a Radiohead, de Graciliano Ramos a Nick Hornby, passando por Samuel Becket, “sou agridoce, e vivo de sincretismos e misturas estéticas” – explica o autor. Graças a isso, os contos emergem com muita força e sensibilidade desse caldeirão de referências estéticas e das memórias e reflexões do autor sobre a adolescência e juventude. “A tendência nas novas gerações é diminuir a duração da infância, prolongar a adolescência, pular a juventude e passar direto pra vida adulta”, finaliza Esturilho.

[Cancha 2] – cantigas para perverter juvenis se desdobra ainda em outros tantos projetos para a Processo MultiArtes. Além dos curtas que vêm encartados no livro, estão sendo produzidas uma opereta, Ave Maria não Morro, com libreto de Esturilho e composição do maestro Alvaro Naldony, que deverá estrear ainda em 2009, e um longa-metragem, Gol a Gol, com direção de Esturilho e Fábio Allon, que será rodado ainda neste ano. E mesmo com todos esses projetos Adriano já tem o terceiro livro em mente: “pra fechar a trilogia, partirei de vozes narrativas da melhor idade, e o gênero deve ser a novela ou o romance”, que deverá ser transposto para o formato de peça radiofônica.

O livro está sendo lançado pela Editora Medusa, que pareceu ser a casa ideal para o texto de Adriano Esturilho por ter um histórico de experimentação e vinculação com outras mídias, como pode ser notado no trabalho do escritor e editor Ricardo Corona.

2/9/09

grandes diálogos imaginários...

-nunca vou achar, não tem índice!

-é só procurar, ora!

-não tenho coragem, ele já sofreu demais com minhas mãos suadas...

grandes diálogos do cinema...

-você começou a fumar?

-sim... e não está funcionando...

[Filhos da Esperança]

1/7/09

da adaptação e outros demônios...

escrever um livro é uma tarefa árdua. eu sei porque me martirizo por muito menos [ou seja, este blog, reportagens, matérias, entrevistas...]. a escolha da composição, ritmo, estilo... são preocupações que podem te levar a criar uma obra-prima, ou te levar a loucura. o que vier primeiro.

um dos melhores livros que li no ano que passou [e foram muitos, acredite] foi "Pergunte ao Pó", do John Fante. admito que muito do que significa afirmar que este foi um dos melhores reside na minha identificação com o personagem principal, alter-ego do autor, Arturo Bandini. este jovem ítalo-americano, vindo do meio oeste dos EUA para LA, nos duros anos que se seguiram da grande depressão americana é um dos mais densos personagens já escritos.

não me identifiquei com ele por conta de sua ambição de alcançar o estrelato literário. me identifico com sua visão, sempre inconstante e incoerente, sobre si mesmo. como o livro é em primeira pessoa facilmente percebemos a insegurança do jovem que quer se afirmar, mesmo sem ter certeza de seu talento. sem ter certeza de que pode viver de sua arte. de seu texto. de traduzir o mundo sob o prisma de sua alma. mesmo batendo no peito e começando uma eternidade de frases com "nós, grandes escritores...". mas, o que torna um grande escritor, de verdade?

daí surge a minha identificação. Bandini, primeiro, pensa que é preciso ter escalado uma montanha para falar sobre isso. sua falta de experiência, especialmente no campo amoroso, é o principal motivo dele se bloquear, rejeitar seus escritos. mas não é isso que cria um grande escritor. um grande escritor é o homem capaz de enxergar em uma folha todos os cheiros e cores contidos numa floresta. mais! ele deve ser capaz de transmitir isso para seu leitor.

mas não é só disso que o livro trata. ao mesmo tempo, Bandini evita experimentar a vida por ter medo de que sua falta de experiência o denuncie. e ele se martiriza, passa fome, é insultado, insulta e se insulta e nos brinda com belas passagens sobre como construímos imagens do mundo e como nos apoiamos nas imagens.

mas [como tudo na vida tem um mas...]

ontem eu resolvi assistir a adaptação cinematográfica, apesar de já ter sido avisado por apreciadores maiores e melhores que eu que era uma perda de tempo. o problema é que foi uma perda de tempo maior do que eu jamais pensei.

na primeira metade do filme o clima já não era muito animador. tudo bem... salvam-se as atuações, ainda que exitantes. e também o tom geral ainda é o do livro. ainda que o belo texto poético de Fante não seja traduzido em imagens, funciona como um álbum de fotos daquela viagem que você fez para um lugar que sempre quis ir, com uma pessoa que você gosta muito. não substitui a viagem, mas te faz ter boas lembranças. mas, ao mesmo tempo, se você não tivesse viajado, não serão aquelas fotos que te convencerão a ir.

a segunda metade me fez ir dormir triste. e isso não é uma metáfora. o problema não é tomar liberdades em relação à história original. o problema está em tentar reescrever aquilo que está no livro. e pior, reescrever como um dramalhão mexicano. aqui não é o cinema em cena e eu estou longe de ser um pablo villaça, então não vou ficar aqui citando cenas, contrapondo com o livro e buscando o ridículo. apesar da tentação.

a questão central aqui é: se você não gosta de como o autor encaminhou o texto, porque diabos quer fazer uma adaptação dele? crie uma história 'melhor' e deixe a adaptação para alguém que goste de verdade da história. eu acho que todo livro tem, ou pode ter, o seu Peter Jackson.

mas, por outro lado, acabei de ver "O Escafandro e a Borboleta". acredito que tudo o que pode ser dito sobre o filme já está pairando em algum canto da internet. e não, eu não li o livro. mas se aquilo pode ser feito com um história, sem cair, em nenhum momento, no clichê hollywoodiano de superação, força do personagem e afins, acredito que algo tão bom pode e deve ser feito com Pergunte ao Pó.

talvez contratar o Fernando Meireles seja um bom começo.