8/23/10

Esporte...

Ando escrevendo para a Revista do Círculo Militar do Paraná. Estou fechando agora a terceira edição. Apesar de esporte, tema, em geral, árido, as vezes consigo fazer um texto que me agrade.

Este tem alguns lugares-comum, mas não é de todo mal. Tem um pouco de coração, ao menos:

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IV Torneio Círculo Militar do Paraná da Associação Paranaense de Basquetebol Máster

Do lado de fora do Ginásio Palácio de Cristal era possível ouvir os silvos produzidos pelo contato dos tênis dos jogadores com o piso da quadra. Junto a eles, os gritos de ordem, euforia ou decepção, acompanhados com os baques secos do ‘quique’ da bola. Um passante qualquer, que não soubesse, poderia pensar que se tratava de um jogo profissional, valendo medalha olímpica. E não estaria tão enganado assim.

O evento em questão era o IV Torneiro Círculo Militar do Paraná, promovido pela Associação Paranaense de Basquetebol Máster, que aconteceu entre os dias 20 e 22 de maio. Ou seja, os atletas já estão um pouco longe daquela vitalidade dos bons anos. Mas nem por isso fazem dos jogos, hoje, espetáculos menos disputados e competitivos.

Marisa Krieger, Diretora de Esportes de Alto Rendimento do Círculo Militar do Paraná, aponta algumas diferenças para os atletas mais velhos: “os jogos podem até perder em velocidade, mas o atleta, percebendo que não consegue mais correr tanto, começa a fazer um jogo mais estratégico, mais inteligente”. E é justamente o que se vê em quadra.

Tempo de casa

Muitos dos atletas que participaram da competição nas três categorias (25-44, 45-64 e acima de 65 e convidados) jogam no Círculo Militar do Paraná a muitos anos e hoje são afiliados à associação. “O Círculo tem o basquetebol veterano mais tradicional, com atletas com 30, 40 anos de casa, gente que começou com 35 e hoje está com 70 anos” diz Neli Nardi, diretor de basquetebol veterano do Círculo.

Para Narsen Paulo Castro, diretor técnico da Associação, “o movimento veterano oferece uma experiência para o jovem, para que eles não desistam e possam fugir das coisas ruins da vida”. Daí surge uma importância muito maior que o encontro de velhos amigos.

Círculo

A Associação Paranaense de Basquetebol Máster promove vários torneios em vários clubes. Mas como muitos dos atletas são tanto sócios do Círculo, quanto pertencentes à Associação, existe um clima bastante aconchegante.

Dr. José Candido Muricy, presidente da associação, começou sua vida no esporte lá no Círculo, e até hoje é um entusiasta. Muitas doações (como tabelas de vidro) para as quadras são dele, coisa que ele fala meio baixinho, quase com vergonha. O que contrasta com outros momentos, como ao dizer que o time do Círculo de sua juventude foi o melhor que já existiu, não perdia para ninguém, “mas aí eu fui chamado para o Curitibano e ganhamos do Círculo”, diz, encerrando com uma de suas ruidosas gargalhadas.

Jogos

Os times do Círculo Militar do Paraná levaram o primeiro lugar nas categorias 25-44 anos e 45-64 anos. Na categoria para maiores de 65 o vencedor foi o time do Curitibano, deixando o Graciosa para segundo lugar.

Os cestinhas foram André Catarina (25-44 anos) com 47 pontos, Roberto Gela (45-64 anos), Narsen Paulo Castro e Willians Espinarsen (maiores de 65 anos), todos com 38 pontos.

8/14/10

Eu, o crônico...

Escrevi uma crônica a pedido de uma amiga para a revista que ela escreve. A versão original, para os fins da revista, ficou meio pesada e a editora mudou um bocado. Aqui, publico a versão MACHO!

A ideia era escrever sobre as armadilhas da comunicação. Imitei o estilo do Arnaldo Branco para a Zé Pereira sem dó alguma, ainda que com resultados mais limitados:

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Os 40% que sobram

Alguém, a essa altura, já deve ter definido a comunicação como uma guerra. Se for o caso, imagino que deve ser parecido com o War, o jogo de tabuleiro: quem defende tem a vantagem do empate. Explico.

Se (e digo apenas para fins de discussão, já que não pretendo resolver a comunicação do ponto de vista acadêmico) a comunicação acontece no embate entre o que um pensou ter dito e o outro entendeu, este último tem toda a liberdade de entender o que quiser. E aí, amigo, danou-se.

Claro que nem sempre isso é uma coisa ruim. Lembro do caso de uma música do Chico (o Buarque), que o Tom (o Jobim) gostava e queria muito tocar. O Chico não sabia qual e Tom piorava a situação dizendo algo como: é aquela, da mulher despeitada, que quer o ex-marido de volta. Bem, a música era “Olhos nos olhos”, e Chico escreveu pensando na superação da mulher. O despeito foi criado na cabeça do Tom, e eu achei que a música ficou melhor assim. (Quando você me quiser rever / Já vai me encontrar refeita, pode crer / Olhos nos olhos / Quero ver o que você faz / Ao sentir que sem você eu passo bem demais)

Uma vez, uma namoradinha dos tempos de adolescência, sabendo que eu iria descambar para os lados do jornalismo, disse, empolgada, que havia lido numa revista que apenas 40% do que é dito é apreendido pelo interlocutor. O problema foi que, ao final, ela disse ‘entendeu?’, de forma retórica. O fato de eu ter respondido ‘só uns 40%’ não contribuiu para a manutenção do relacionamento. Ela não entendia piadas. Pelo menos não 100%.

As pessoas entendem o que bem querem, não importa o que você tenha dito. A única coisa a fazer é rezar para que o pouco que foi entendido, tenha sido interpretado de forma minimamente próxima às suas intenções originais.

Caso não seja, não se preocupe. Culpe a burrice ou falta de boa vontade alheia e durma feliz e em paz com a sua consciência. Você fez o seu melhor.

Aliás, convenhamos que boa vontade costuma ser o principal problema na compreensão de uma mensagem. Já vi funcionários de uma empresa que oferecia café da manhã de graça para todos reclamarem da forma diabólica como os diretores faziam para obrigá-los a chegar na hora.

E nem preciso ir tão longe. Qualquer um que tenha discutido o relacionamento (a famigerada DR) sabe do que eu estou falando. Todo e qualquer argumento será usado contra você. Naquela hora. E depois. E até uns 20 anos depois da relação ter acabado, caso você, por acaso, encontre a outra pessoa na rua. Não importa a boa intenção por trás. Não importa nada, na verdade.

A minha estratégia é pedir desculpas e culpar minha criação. O que, claro, também dá errado.

Entendeu?