11/5/07

escrever...

certa vez li que escrever é dar-se, mostrar-se, escancarar-se. se eu não me engano era um texto sofre Foucault de uma tal Yeda Tukerman (ou talvez um outro sobre o mesmo de uma outra chamada Fernanda Bruno, li os dois na mesma época então eles se me confundem, enfim).

e é engraçado que é justamente assim que eu me sinto. não importa o texto, não importa o meio. o curioso é que sou (pratico) jornalista. meus texto já foram publicados em diversas ocasiões, apesar do meu pouco tempo de ofício. já fui lido e muito elogiado. mas sempre tenho muita, muita vergonha de meus textos. sempre que alguém me lê (principalmente se estou perto) é como se eu estivesse nu, sendo avaliado, investigado. e não sou purista dos meus textos. aceito alterações, modificações, desde que sejam bem justificadas, ainda mais que sei que tenho uma séria tendência a fazer de meus textos um grande e louco samba do crioulo doido.

mas não sei o que acontece. talvez eu acredite que, por mais que um texto meu seja para fins institucionais, eu sempre me esforço para deixar ali um pedacinho da minha alma. desconheço outro jeito de escrever. sempre, sempre, fico envergonhado com alguém fará, ao menos, a primeira leitura de uma pequena 'obra' minha.

e eu, sinceramente, não consigo precisar de onde vem essa vergonha toda. já brinquei de ator, nos meus idos anos de faculdade (pretendo voltar aos palcos um dia, me faz falta poder ser alguém que não sou eu), e nunca tive problemas, já tendo enfrentado, até, dois grandes desafios. um primeiro foram um amontoado de crianças, o outro, uma platéia de quase mil pessoas. já brinquei de televisão nesses mesmos anos e, apesar de não gostar de câmeras e achar que elas oprimem mais que uma platéia de 1000 pessoas, nunca me senti tão desconfortável como quando alguém está lendo meus textos.

e já, como disse, em geral, meus textos são elogiados, desde os jornalísticos (esse menos, sou obrigado a admitir, mas tenho melhorado) até os mais opinativos (delimito gêneros para fins de discussão, mas para mim é tudo a mesma coisa), passando pelos literários (esses últimos me divertem muito mais a execussão) e pelos mais acadêmicos (que pela possibilidade de articular idéias de forma mais sofisticada, me agradam fazer também).

ao mesmo tempo, quando escrevo por 'hobbie', eu tenho uma gigantesca necessidade de burilar o texto na minha cabeça. me divirto muito escrevendo 'about me's do orkut. passo horas, dias, pensando na melhor forma de se escrever aquilo que quero escrever, ou aquilo que penso melhor representar o que sou eu, no momento. ultimamente têm sido pequenas frases que delimitam tudo e abrem interpretações.

gosto muito de algumas, como:

"...caixinha de boas recordações com medo profundo e sincero de não ter onde colocar as mãos...

parece confuso? é mesmo!"

"...mixto tresloucado de devaneio e realidade..."

"no momento metade de mim é saudade do que fui, enquanto a outra metade é nostalgia em relação ao que poderia ter sido e não mais será. o que sobra (porque quando se divide algo em duas partes sobra a matéria de todo um novo universo) é a excitação pelas possibilidades do porvir..."

agora o que está é:

"...um amontoado de palavras desconexas, descontentes, desfiguradas, desencontradas e descoordenadas...

significados? todos!"

ou como meus agradecimentos nos convites de formatura:

"com medo de errar e ofender o cânone familiar, recorro ao clichê: agradeço a Deus, pais, resto da família e amigos!"

"agradeço a Tia Minervina pelas primeiras letras e aos meus pais por terem assinado turma da mônica na hora certa. o resto foi conseqüência."

é engraçado que desses pequenos escritos eu tenho muito menos vergonha. acho que por ter ficado muitos e muitos dias pensando e pensando neles (motivo pelo qual eu, inclusive, decorei esses testículos) eu acabei criando um certo tipo de orgulho.

e acho, também, que o fato de eu trabalhar escrevendo tem me feito menos nervoso em relação e esses textos. apesar de que eu ainda me sinto muito, mas muito mesmo, inseguro em relação a escrever mascarando minha subjetividade para fins mercadológicos. mas talvez isso não seja uma coisa tão ruim assim...

3 comments:

said...

Mais tarde eu volto pra ler esse novo post. Agora só vim comentar o teu comentário, antes de sair. Um tempo atrás, se me dissesses que o meu texto era meio Nelson Rodrigues eu seria capaz de cometer um homicídio literário, extinguir o texto do planeta. Pq eu odiava qq coisa relacionada a esse cara, mas hj não... rs. Reconheço o valor dele. E tomo como um elogio, é lógico.

Quanto a eu ter ganhado um fã, acho melhor vc parar com isso, que eu posso achar que é verdade e eu vou ficar metida. :-P

Bjs, moço. Volto mais tarde.

said...

Voltei e nem tão mais tarde assim.

Menino, tô boquiaberta. Tu és uma versão masculina de mim. :-0

Sério mesmo. Não tens noção do quanto eu hesitei em abrir um blog. Alguns amigos insistiram mto e depois de um tempo achei que ia ser bom pra eu parar de ter vergonha e de queimar os meus textos.

Desde uma simples dedicatória num livro que eu dou de presente, me enrubesce se a pessoa abrir e ler na minha frente. Uma coisa surreal. Achei que eu era esquisita, mas se eu for, somos dois. :-P

Bjs, menino. Adorei o texto. Mto bem escrito e extremamente reflexivo. Mto, mto bom mesmo.

said...

Respondendo ao seu último comentário, quando escrevemos, mesmo algo não biográfico, estamos sim abrindo-nos à visitação, concordo com vc.

Os textos dissertativos talvez tragam tanto de nós quanto os narrativos. Embora os segundos me dêem mais prazer. E deixe de ser tão modesto. Ai, ai, ai!

Bom, já que vc coloca nesses termos, com essa flexibilidade a sua condição de fã, eu fico mais à vontade, com certeza. :-)

beijos procê!

P.S.: Quanto a nossa mais recente coincidência (como eu devo chamar?), realmente, acho que terei que concordar com vc... Minha racionalidade não tem respondido mta coisa mesmo, então mudemos a estratégia. ;)