7/25/07

escolha...

a casa dos meus pais fica em uma cidade que está no meio do caminho entre grande e pequena, entre centro e interior de minas gerais.
é uma casa grande, ampla, agradável. passei muitos bons momentos por lá.
desde que nos mudamos para lá, e mesmo muito tempo depois de eu ter me mudado, havia, ao lado da casa, um terreno baldio. este terreno se situava na esquina de uma, relativamente, grande avenida da cidade, com a rua que é a da casa dos meus pais. por muitos anos eu passei por ele sem me importar, mas, no fundo, eu sempre gostei daquele lugar vazio, meio intocado. me dava a sensação de que ainda havia muito espaço no mundo.
no ano passado iniciou-se uma construção. meus pais ficaram chateados pois são três casas germinadas em um terreno, o que ajuda a desvalorizar a propriedade deles. além disso agora tem muito mais sombra no quintal na parte da tarde. os pedreiros são muito barulhentos, o que traz incomodo de você pretende aproveitar um pouco da paz de um lugar meio afastado. enfim, uma série de pequenos aborrecimentos, mas nada muito dramático.
mas uma coisa me incomodou muito. muito mesmo. a ponto de me deixar as vezes frustrado. é a questão do caminho.
gosto muito de andar a pé. até hoje com carros e carteiras de motoristas, quando o lugar é acessível eu prefiro caminhar. esse hábito vem da minha juventude (bem, jovem eu sou, é justo dizer que o hábito vem da minha adolescência) quando não tinha carteira e não gostava de pedir meus pais para me levar e buscar para os lugares.
a questão é que muitas vezes (as vezes até três vezes por dia) eu vinha dessa avenida principal e virava a esquerda contornando o terreno. eu nunca atravessei o terreno, mesmo quando estava bem capinado. por toda a minha existência eu sempre contornei.
e quando as obras começaram eu notei que perdi alguma coisa. eu senti que algo mais tinha mudado no mundo. que não era a simples desvalorização do terreno. que não era a sombra. muito menos o barulho dos pedreiros pela manhã.
eu percebi que nunca mais poderia atravessar pelo meio do terreno. eu sei que eu nunca atravessei e provavelmente nunca atravessaria, mas me incomodou perder meu direito de escolha.

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